A julgar pelo que já vimos acontecer em outros momentos, logo os meios de comunicação começarão a centrar sua atuação em outros temas. Uma semana depois do terremoto e de suas incontáveis consequências, as histórias sobre o Haiti começam a perder espaço. Hoje, já não ocupam todos os lugares entre as mais lidas ou visitadas nos portais da internet. As chamadas em rádios e TVs começam a refletir uma certa saturação que não é mal intencionada, mas sim resultado quase natural da super exposição midiática que parece não conduzir a nenhum lado.
A mobilização dos meios de comunicação internacionais foi extraordinária. Dezenas de jornalistas estadunidenses, mexicanos, espanhóis, canadenses, britânicos, venezuelanos... descobriram a existência profunda desta metade de ilha cujo futuro nos sacode de modo recorrente. Com o entusiasmo próprio de quem é testemunha de uma parte importante da História, assim, com letra maiúscula, muitos repórteres e apresentadores se lançaram a uma aventura complexa, incerta e perigosa. Começaram a chegar relatos, imagens, mais relatos, histórias de horror, imagens de esperança, mais imagens, áudios.
Houve momentos felizes – os relatos de resgates de pessoas -, episódios lamentáveis – o anúncio na televisão nacional, por parte do embaixador do México no Haiti, da morte do funcionário Gerardo Le Chevallier, sem ter a confirmação e sem ter informado previamente a família; a ligação em tempo real do professor Carlos Peralta Valle, resgatado entre os escombros, com a mãe; depois saberíamos que estavam há mais de um ano sem falar, mas não importa, a cena serviu para ilustrar o poder midiático da reunificação. Porque nada comove mais que identificar entre as mortes anônimas e os escombros ameaçadores, um rosto com o qual se compartilha, ao menos, a origem. Estas e outras situações se repetiram em cada um de nossos países.
Em uma de suas notas para o El País, Pablo Ordaz relata como foi repreendido por um jovem haitiano que buscava cadáveres: “É verdade que irão contar?” – perguntou com uma boa dose de ceticismo, “ou se irão daqui quando já tiverem fotos suficientes?”. O mundo saberá manter o interesse nesta nação tão golpeada e tão digna? Ou voltará aos velhos assuntos e abrirá a porta para o esquecimento daquele povo?
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